terça-feira, 12 de junho de 2012

COLUNA DE MÍRIAM LEITÃO

Resgate é ponto de partida, reformas devem continuar O resgate da Espanha é um ponto de partida, não de chegada. Também não resolve todos os problemas do país, mas sim, o mais importante: o do sistema bancário, "coração da economia", nas palavras do professor do IE Business School, de Madri, Rafael Pampillón. Ele diz que o "coração" estava falhando. Segundo o professor de Economia, a ajuda tem que vir acompanhada de mais reformas e ajustes. Sozinha, não basta. Em entrevista por telefone ao blog, ele afirmou que a solução encontrada foi a menos pior e lembra que a dívida do país vai aumentar, por conta do modelo de resgate adotado. A crise dos bancos preocupava mais que a da dívida, de acordo com o professor. Havia medo de que o caso Lehman Brothers se repetisse na Europa. Abaixo, a entrevista na íntegra: Receber ajuda sem a intervenção da troika foi a melhor saída para a Espanha? Creio que teria sido melhor que a ajuda, em vez de ser em forma de crédito, tivesse vindo em forma de recapitalização de nossos bancos com problemas (até 30% do total). Será uma linha de crédito de 100 bilhões de euros, o equivalente a 10% do PIB. É um resgate dos bancos, diferente dos outros (Grécia, Irlanda, Portugal). Não quer dizer que o resto da economia não tenha que se esforçar para melhorar, para arrecadar mais, recuperar o crescimento econômico. A dívida da Espanha aumentará com esse tipo de resgate? Sim, porque o resgate será através de crédito. Em caso de utilizarmos 100 bilhões de euros, são 10% do PIB. Se o país fechar o ano com uma dívida de 80% do PIB, mais 10%, serão 90%. Com esse tipo de resgate, a dívida vai aumentar, à medida que formos utilizando o crédito. Se usamos 40 bilhões, serão 4% do PIB, por exemplo. O fundo de resgate europeu fará um empréstimo ao FROB (fundo público da Espanha de ajuda ao setor bancário), que vai recapitalizar as instituições financeiras com problemas. Por ser um fundo público, computa como dívida. Os contribuintes espanhóis serão donos desses bancos. Não havia outra saída? Sem ajuda da Europa, a Espanha não conseguiria sair dessa situação de dificuldade? Seria difícil. Os mercados estavam fechados; o prêmio de risco, subindo; os juros pagos pelo governo para rolar a dívida estavam em 6%, 6,5%. Emitir bônus seria muito custoso. Seria melhor que o resgate tivesse sido com capital, para não aumentar a dívida. Mas foi a saída menos pior. A outra possibilidade seria a quebra dos bancos, o que provocaria uma corrida bancária, pânico. O resgate resolve os problemas da Espanha? A Espanha está dando passos numa boa direção. Subiu impostos, fez reforma trabalhista e está fazendo a financeira. Com o resgate, a situação não está resolvida. É um ponto de partida. Os mercados temem que seja um ponto de chegada. Esse resgate tem que vir acompanhado de mais reformas, ajustes. As comunidades autônomas precisam reduzir os gastos, privatizar empresas. Ainda muita gente será demitida. A ajuda resolve o problema mais importante que tínhamos; o coração da economia, o sistema bancário, estava falhando. Se o coração falha, falha a economia. Estamos tentando resolver isso. O resto da economia também tem seus problemas. A crise dos bancos preocupava mais que a da dívida? Sim, porque a nossa dívida não é tão alta quanto a de Portugal, por exemplo. Havia medo de que o caso Lehman Brothers pudesse se repetir na Espanha. Com esse resgate, o problema dos bancos está resolvido? Sim. Segundo informe do FMI, os bancos com problemas precisam de 40 bilhões de euros. Não necessitaremos de 100 bilhões de euros, mas até 50 bilhões. O governo também precisa de ajuda, ainda que não tenha pedido? Não, pode financiar a dívida que vai vencendo e está conseguindo captar vendendo títulos. Não precisa de ajuda. A crise pode atingir os grandes bancos? Não. São bancos que têm bom financiamento, diversificação de ativos, não tiveram tanta acumulação de créditos tóxicos. São as caixas de poupança que têm problemas. A salvação da zona do euro passa pela união fiscal e bancária? Sim. Haverá uma reunião de chefes de Estado e de Governo no fim do mês. Vamos ver se vão chegar a alguma conclusão, se darão um passo adiante. Mas é algo complexo. A solução passa pela união bancária e pela unidade fiscal com um ministro de Economia e Fazenda num patamar acima dos 17 da zona do euro.

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