segunda-feira, 30 de julho de 2012

DRAGHI IMITA MANTEGA

No melhor estilo “operacional” de Mantega, o “manda chuva” do BCE, Draghi, afirmou mais uma das inúmeras obviedades que tem sido repetidas ao longo da crise internacional e, com isto deu uma pontual operada no mercado financeiro global, atingindo a sua extraordinária carência de qualquer coisa que não seja negativo, para fazer a roda “rodar”, promovendo, ainda que desprovido de qualquer fundamento técnico, um movimento positivo dos ativos a nível global. Afinal, Draghi afirmou que o BCE fará todos os esforços para resolver os problemas da eurozona e sua unidade, ou seja “chamou para si” a responsabilidade que já era sua e que todos estavam acreditando que os esforços que vem sendo desenvolvidos tivessem exatamente o objetivo do que foi reafirmado. Na realidade parece que há uma absoluta falta de ideias por parte dos principais gestores da eurozona e, agora também, da sua crise, que então se permitem o direito de requentarem velhos chavões como se fossem novidades e, “ouvidos” ávidos do grande contingente sem direção e perspectivas críveis as aceita como novos alentos, se empolgam, para depois retornarem à dura realidade da incapacidade de vislumbrarem uma saída viável, factível, que não seja só a “operação tapa buracos” com financiamentos socorristas, que evitam o “crash” mas não resolvem o problema. Esta “roda viva” só tem feito agravar-se desde o inicio da crise em 2008/2009 e, em termos realistas, ninguém tem convicção como vai acabar, mas é perceptível que se agrava e vai envolvendo mais economias. Parece-nos que enquanto não resolverem o problema de legitimidade política da unificação que criou a eurozona e sua moeda euro, que provoca críticas mútuas entre seus pares, desconfianças, posturas separatistas, tudo o mais será paliativo. Sem regras magnas subordinantes a todos e liderança supranacional de gestão da política monetária e fiscal da eurozona, não haverá avanços sustentáveis, e este ponto de “consertar os relevantes problemas sem parar o veículo condutor de todos, não permitindo que nenhum dos personagens desça no meio do caminho” é uma missão vista como quase impossível, mas o fato é que se houverem rupturas, o entrelaçamento de endividamentos disseminados no ambiente da eurozona não deixará nenhum país sem punição, que afinal colocará em risco o todo. Friamente observando este conturbado cenário da zona do euro, não há como vislumbrar-se que “todo o esforço” envolvendo tão somente financiamentos para os déficits crescentes, crises nos sistemas financeiros, etc. possa trazer solução para o relevante problema. Por isso parece que campeia uma imaturidade intencional quando vemos o mercado financeiro global se entusiasmar com declarações que tem mais ênfase do que essência. Então, fica sempre a expectativa que depois do êxtase com uma frase de efeito, vem certamente o desanimo com a retomada da realidade. Até agora, BCE e seus pares fizeram “espuma”, jargão muito comum no mercado financeiro, não havendo nada de positivo e evolutivo no sentido de resolver a questão central da crise. A nova ideia, se assim podemos considerar, do BCE emitir moeda efetivamente para suprir as demandas dos seus pares endividados, pode ser o caminho para a desvalorização do euro globalmente frente a todas as moedas, e seria quase um plano “kamikaze” para pagar as contas de forma irresponsável e promover a competitividade dos produtos europeus no comércio exterior, pois o euro poderia chegar a 1 por 1 com o dólar. A única coisa real e efetiva é a grande destruição de riquezas que este estado de coisas está provocando de forma cada vez mais rápida. No Brasil seguimos tomando decisões por partes e sem foco no todo. Se não mudarmos esta dinâmica provavelmente vamos “patinar”, mas não sem sair do lugar, lamentavelmente com alto risco de retrocesso. Mas há algo importante, o governo tem feito menções de que sabe exatamente onde estão os problemas, tem mencionado o diagnóstico correto, porém a implementação sugere que comecemos já para conseguir a correção no médio/longo prazo, sendo certo que os pacotes pontuais de curto prazo não promoverão a recuperação sustentável da atividade econômica. Por aqui também os caminhos para as soluções estão mais no campo da vontade política. No nosso mercado de câmbio, a espera do BC com sua intervenção pontual continua e isto esta viabilizando, pelo grau de certeza de que ocorrerá, a apreciação do real, mesmo num ambiente presente e prospectivo de queda do fluxo cambial, que afinal deveria ser determinante na formação do preço num mercado flutuante. Contudo, a despeito do monitoramento do BC, o mercado tem sua própria força face à sua realidade, por isso continuamos projetando o preço da moeda americana com tendência de elevação em perspectiva, a despeito da aparente insensibilidade ao cenário presente que já se configura desfavorável. Sidnei Moura Nehme Diretor Executivo, Economista NGO CORRETORA DE CÂMBIO LTDA. www.ngo.com.br Publicado em ADVFN

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